sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sentimentos x Atitudes


Não é incomum vermos pessoas julgando os sentimentos de outras por conta de uma ou outra atitude tomada pelo fulano, como por exemplo:
  • Ah… Se ele não me amasse mais não teria me ligado ontem fingindo que queria falar sobre o apartamento.
  • Até parece que um cara que vive saindo com outras gosta dela. Ela é cega!
  • Viu? Olha lá, o pai dele está doente grave e ele ainda fica todo sorridente?

Estes são apenas três dos milhares de exemplos que aposto estarem pingando em suas mentes agora, inclusive em casos de sua própria vida.

Mas o fato é que sentir é apenas sentir e agir é apenas agir. Quando combinamos UM SENTIMENTO A UMA ATITUDE, ok, podemos até aceitar que as ações e reações possam comprovar o que alguém sente. No entanto, não se esqueçam, na maioria das vezes não agimos de acordo com o que sentimos.

O mais engraçado é que quem julga o outro por suas atitudes questionando sentimentos esquece de levar em conta que talvez, na hora H, diante da mesma situação que outro ele agiria tal qual o outro agiu também ou até pior. Nós não baseamos nossos julgamentos em fatos comprovados, baseamos no que ACHAMOS que faríamos diante daquilo.

Quando meu marido morreu, por exemplo, eu gritei feito maluca no meio da rua e aqueles 5 minutos que esperamos pra chegar a ambulância pareciam horas eternas. Eu só pensava em fazer aquilo tudo parar de acontecer, aquelas pessoas em minha volta me segurando me irritavam e eu gritava ainda mais.

Aí, veio a confirmação da morte dele e eu desmaiei. Fui pra delegacia, depus por horas e finalmente cheguei em casa, tomei banho, deitei na cama e chorava, copiosamente, então liguei a tv. Pra azar total, era bem a notícia da morte de meu marido que passava e eles filmavam a frente de meu escritório, bem onde ele havia caído morto. Desliguei, tentei dormir e não consegui.

Então, fui pro computador. Entrei no msn, na comunidade que eu fazia parte, contei da morte pra uma amiga minha e dele e ela não acreditou. Fui contando até que ela se deu conta que era verdade.

Logo, todos sabiam e vinham falar comigo e tal, mas duvidando de mim.

Em paralelo a conversa era:

- “Nossa, o marido dela acaba de morrer num assalto ela vem pra internet?”

Pois eu pergunto> o que é que eu deveria fazer, então?

Qual é o protocolo a ser seguido quando você estiver sentindo uma dor só sua, intensa, latente, sem chances de cura, misturada com um trauma, com indignação, com descrença, com vontade de ter colo e, ao mesmo tempo, não querer ninguém perto te sentindo dó?

Eu deveria ter feito o quê, senhores moralistas sentimento-comportamentais?

Deveria ter me vestido de preto, com luvas rendadas e lenço, sentado em minha sala em meio aos parentes e chorado copiosamente?

Ou deveria ter ficado mongolóide e depressiva, olhando pra lâmpada e babando?

Quer dizer que só temos dor suficientemente plausível quando provamos para este mundo hipócrita que sentimos dor? Não basta passar por ela, temos que provar que a sentimos? Por quê? Pra que este prazer em ver as pessoas sofrendo e querendo sua piedade?

Não! Eu apoio todo aquele que não se entrega a dor e nem a estes bastardos que julgam melhores os que choram mais!

Chega disso! Chega de viver numa sociedade onde ser forte é ser comparado com ser frio. Onde não se basta sofrer as penas da perda, tem que provar que é uma coitada. Chega!

E que os bastardos que falam, continuem falando já que não tem capacidade de fazer melhor, nem mesmo igual!


Dra do Amor