domingo, 28 de abril de 2013

Quanto Custa o Seu Carinho?

Os preços estão totalmente descontrolados e andam subindo mais do que piroca de adolescente sob o efeito de Viagra. O custo do combustível está cada dia mais alto, assim como o do metro quadrado de um imóvel, o da conta de telefone, o do plano de saúde, o do cigarro, o da coxinha, o do tomate – enfim, o preço de quase tudo está em estado de constante erupção.
Não tive outra saída a não ser me adaptar. Só me restou seguir os conselhos do mano Darwin e achar alternativas para sobreviver em meio às inflações da máquina capitalista. Para não ter que vender meu rim no mercado negro e nem me aventurar a comer velhinhas taradas em troca de capital, fui obrigado a trocar meu carro por uma magrela, meu telefone por um e-mail, o cigarro por uma baita abstinência, a coxinha de frango por uma feminina sem catupiry e o tomate troquei por caqui. Até aí tudo bem, sobrevivi a quase todas as altas com as quais me deparei.
Só não consegui engolir a elevação brutal do preço de uma das coisas mais essenciais para a sobrevivência das relações humanas: o carinho. Não sei se já repararam, mas hoje o carinho anda bem mais caro do que deveria. Diria até que está abusivo. E não falo apenas do carinho necessário entre namorados. Refiro-me também ao carinho fundamental entre familiares, profissionais, vizinhos, motoristas, pedestres, extraterrestres – enfim, falo do carinho que, por lei, deveria ser distribuído gratuitamente em todos os elevadores e esquinas desse universo. O planeta precisa de carinho em forma de sorrisos sinceros, de cafunés demorados, de gentilezas espontâneas, de poesias em guardanapos ou de qualquer outra coisa capaz de nos livrar do ódio e dos inúmeros venenos inerentes à nossa perigosa existência humana.
Estou falando do carinho gratuito, do tipo que não espera nenhum outro carinho para acontecer. Estou falando de gente que dá o braço inteiro sem querer um pedaço da mão em troca. Pare de esperar o sorriso do outro para aí então entregar o seu. Seja mais rápido no gatilho e saia por aí metralhando sorrisos sem economia. Não custa nada. Muita gente só tem dado carinho na base da troca e, justamente por isso, tem muito mais pessoas esperando sem fazer nada, do que seres entregando sem esperar nada. Você precisa quebrar essa inércia egoísta, esse ciclo de gente passiva, e começar, agora, a distribuir carinho sem se preocupar se receberá algo em troca.
Sua conta corrente pode estar tão vazia como a de um mendigo e, justamente por isso, você tem todos os argumentos do mundo para economizar dinheiro e fechar o bolso. Agora, qual é a justificativa para agir da mesma forma econômica com o carinho? Há mais carinho no seu coração do que reais na conta do Eike Batista. Por isso, não tenha medo de sair por aí jogando carinho para o alto, distribuindo sem dó ou peso na consciência. E sabe o mais louco disso, ao contrário da lógica monetária? Quanto mais carinho você gastar, mais rico ficará.

Ricardo Coiro

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pelo Direito de Ser Feliz Sozinho

“Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho.” E assim diz o mestre Tom Jobim numa das músicas mais conhecidas e cantadas da Bossa Nova brasileira. Eu até concordaria com o pensamento se não houvesse uma única palavra nele que me chamasse atenção para um detalhe maior. Por que é impossível ser feliz sozinho?
Hoje em dia se fala muito sobre relacionamentos e sobre as variações deles. Amor, sexo, paixões de uma noite só e livros de cabeceira contando histórias e mais histórias sobre isso tudo. Parece que a gente vive preso a um ciclo que se resume a nascer, estudar, trabalhar para poder ter recursos a fim de conseguir um casamento e constituir família. E assim roda o ciclo de uma visão mais tradicional (e um tanto antiquada) sobre a necessidade de relacionamentos estáveis na vida de alguém. A pressão da sociedade e o julgamento vêm na forma das perguntas dos familiares sobre as namoradinhas ou das amigas sobre o casamento depois de certa idade. A falta do status de algum tipo de relacionamento estável (principalmente o status de “casado”) se confunde com a falta de pleno sucesso na vida pessoal de alguém. Olhares de reprovação chegam de todas as direções e se escondem nos comentários velados de “coitada, ela é tão inteligente, mas não casou até hoje” e “ele é um partidão, mas deve ter algum problema porque ninguém o quer”. 
Mesmo no contexto em que estamos de uma nossa revolução sexual, a visão arcaica da necessidade de uma vida a dois para se obter sucesso ainda se apresenta muito forte. Mas a tendência é que, no futuro, mais pessoas se tornarão solteiras bem sucedidas. A dedicação e o objetivo da vida de muitas dessas pessoas vai ser a carreira, o lazer, a cultura e todas as coisas que puderem aproveitar. É lógico que isso não exclui a possibilidade de relacionamentos, mas esse não vai ser mais o tal do “objetivo de vida” de alguém. Muita gente convive melhor com a solidão do que com outra pessoa. Solidão não é um problema, não é uma falta, muito menos uma causa patológica. Essa solidão que falo aqui é opcional e ressalta outras prioridades que surgem para milhares de pessoas que estão felizes e gostam de levar a vida desse jeito.
Então, eu deixo aqui um manifesto. Que ela possa ficar para titia e fazer dos sobrinhos os filhos que ela optou por não ter. Que ele possa ser um solteiro convicto que se dedica ao trabalho e se sente realizado assim. Que as namoradinhas das festas de família não precisem mais existir e que companhia seja opcional pra qualquer um. Que ela possa ir à festa do trabalho sozinho e se divertir com outras pessoas como ela. Que os presidentes não precisem de primeira-dama e que seja comum ser admirado por estar bem consigo mesmo. Que cessem as más impressões de que alguém é depressivo ou incompleto por estar sozinho. E que, mais do que nunca, a felicidade possa ser a única companhia necessária a alguém que optou por ela exclusivamente.

Daniel Oliveira