segunda-feira, 9 de julho de 2018

Síndrome da Desilusão Ortográfico-Amorosa


Não é que seu cabelo não seja no corte que eu sonhei. Nem foi sua regata que me afastou. Não foram seus amigos, seu jeito, a ligação que você demorou tempo demais a fazer. Relevei tudo isso porque você me fazia bem. Eu estava pronto para tudo com você – menos para o seu “geito”.

Foi aí que veio a internet. E eram tantos erros que eu fechei sua página antes mesmo de ler toda a sua timeline. Veja bem, eu encararia numa boa seu celular desligado, seus ex-namorados no seu pé. A gente superaria isso junto.

Mas não deu para encarar o “concerto do seu computador”, o “encomodo” que você causava, muito menos a “conhecidência de termos nos conhecido”. Nunca mais queria uma coincidência dessas na minha vida.

Não lhe pedi muito. Não queria declarações com ênclises, mesóclises e próclises nos lugares certos. Não lhe pedi que usasse o pronome correto, respeitasse a concordância nominal, nem sequer que realizasse bom uso da crase. 

Tudo isso eu perdoava, que seria de nós se nos prendêssemos às regras intermináveis do português? Mas você me apareceu com um “vossê” e meu coração parou. E não de um jeito bom.

Entenda, não foi seu gosto musical. Não foram as baladas que você frequentava, seu jeito de me abraçar e seus sumiços. Não foi beijo insosso nem foi falta de química. É, não foi, com certeza, falta de química ou física.

Foi a falta do português. Da próxima vez, conquiste-me com um dicionário. Porque, em todos os sentidos, uma língua bem usada é afrodisíaca.

adaptação do texto original de 'Karine Rosa'