domingo, 30 de janeiro de 2011

Me sinto esquisito


Eu sou esquisita. Não consigo me imaginar realizada se tiver um puta salário sem paixão pelo que faço. Sou um fiasco para me vender, embora precise disso para sobreviver. Prefiro falar de como superei aspectos negativos da minha personalidade do que como conquistei as pouquíssimas coisas materiais que, entre aspas, possuo.
Odeio ser o centro das atenções. Mas também acho insuportável não ter atenção nenhuma das pessoas importantes pra mim. Ouço conselhos, mas faço o que me dá na telha: sou empírica. Penso demais, o que me torna complexa. Mas na prática, sou prática. Não costumo gostar de bolo de aniversário, mas sempre experimento um pedacinho pra ver se não mudei de ideia (eu vivo mudando de ideia). Leio muito, vários livros ao mesmo tempo, mas geralmente só o que me atrai. Tenho cinco livros de Nietzsche e vou confessar que não terminei de ler nenhum. E não entendi a maior parte do pouco que li. Acho que uma pessoa deve estar preparada para uma leitura. Eu não estou preparada para superar o egocentrismo do Nietzsche. Sou fascinada por Clarice Lispector. Sou totalmente inquieta: só que por dentro. Minha mãe fala que quando eu era neném, dava muito trabalho por não dar nenhum trabalho. Explico: ela tinha que adivinhar se eu tava bem ou tava doente, porque eu era quietinha demais. Podia estar queimando de febre que não chorava. Tenho 24 anos e ainda não aprendi a expressar minhas dores. Nem as físicas, nem as emocionais. Guardo quase tudo. E fico desconcertada quando me adivinham. Mas aliviada também. Quero ser mãe. Todos os meus esforços para construir minha trajetória e minha vida estão relacionadas com a estrutura que quero dar a mim mesma e aos meus filhos. Acredito no amor. Acredito no amor infinito. Duvido de tudo o que foi dito sobre deus até hoje, mas não duvido que exista algo mantendo o universo em movimento, algo inimaginável e indefinível. Acredito porque sinto. Não penteio meus cabelos. Odeio falar ao telefone. Não gosto muito de falar. Prefiro escrever. E quando escrevo, evito os fatos. Gosto do que se sente e do que se pensa em relação aos fatos – apesar desse texto em especial retratar nada mais nada menos do que: fatos. Não uso salto alto. Se existe um poder feminino, não creio que esteja na altura do meu sapato. Não me importo de usar um pé de cada meia quando não encontro o par certo. Prefiro calcinhas de algodão. Me sinto muito mais confortável entre pessoas simples em suas aconchegantes casas velhas. Não assisti a um só capítulo de Lost. Não tenho peitões, nem vontade de colocar silicone. As pessoas que mais amo são totalmente diferentes de mim. Acho muitas pessoas que escrevem errado muito mais inteligentes do que algumas que fazem questão de corrigir o “português errado” das outras. Às vezes, quando estou muito feliz, me pergunto: o que vem depois de “ser feliz”? E concluo que “ser feliz” não é nada, e me acho patética. Sabe aquela frase que diz “ Vocês riem de mim por eu ser diferente. Eu rio de vocês por serem todos iguais.”? Pois então: eu sorrio para todos, porque acho tudo isso uma grande bobagem. Eu sou realmente muito esquisita. E sabe qual é o preço que pago por isso? Ser eu mesma.

Portanto, bata o pé e grite “não!” quando o mundo cobrar de você alguma coisa que não tenha nada a ver com aquilo que você essencialmente é. Seja um estranho para todos. Mas não seja um estranho pra si mesmo. O preço que você paga por “ser você” pode ser alto. Mas nunca será mais alto do que o preço que você pode pagar por “não ser você”.

Natacha Orestes