Ouço muitas mulheres se lamentando sobre os homens dizendo que eles
são tarados, sexualizados demais, que não querem nada sério, que namorar
nem pensar e se queixam dizendo: “no fundo, só querem me comer“.
Sei qual é o incômodo implícito nessa queixa – o de serem vistas como
um pedaço de carne, apenas um apelo sexual, uma vagina ambulante, em
resumo, um OBJETO.
Essa sensação desagradável é legítima, mas quero ampliar o papo,
afinal o sexo não é única maneira de tornar uma pessoa um objeto.
Objetificar uma pessoa é um processo mental de despersonalização dela em
favor de um único aspecto ou traço de sua personalidade, condição
social ou material. Traduzindo – quando você fala da mulher gostosa, do
amigo gay, do cara cheio da grana, está objetificando essa pessoa, ou
seja, reduzindo-a a um só aspecto e perdendo tudo o que diz respeito à
pessoa como um todo.
Muitas mulheres mesmo sabendo que são vistas como “um pedaço de
carne” continuam se relacionando com o cara com a esperança que ele a
veja para além da sua bunda ou seio farto. Ela quer namorar e ter um
relacionamento “sério”. Logo que conhece o cara já começa a fazer um
scanner psicológico e quer saber se ele é um bom partido. Se ele não
liga no dia seguinte ela se sente ultrajada dizendo que ele a usou e que
sentiu algo a mais por ele. Como assim algo a mais? Ela mal conhece o
cara e já o acusa de ter sido usada?
E aí vem aquela revelação bombástica – a mulher que só quer namorar e
ter um compromisso sério também vê o homem como um objeto. Um objeto
para a sua fantasia de namorada. Aquele cara perdeu sua personalidade,
história pessoal, amizades e um trabalho, aos olhos dela ele virou um
namorado em potencial. Toda a experiência que ela tem ali é filtrada por
essa ideia fixa que deixa seu olhar completamente tendencioso e aflito.
“Como assim ele não quis nada A MAIS comigo?”. Ela nem se pergunta se
ele não se sentiu como um objeto sendo visto com tanta intimidade sem
ao menos passar alguns dias ao lado dela?
Então, do mesmo jeito que você se queixa que ele só quer te comer
(objeto-sexo), você também só quer namorar (objeto-compromisso/proteção
emocional). Ambos são tratamentos que transformam uma pessoa num objeto,
mas nossa cultura diz que só querer sexo é feio e só querer namorar é
bonito, não é? Sem enxergar o outro lado da moeda, muitas mulheres não
conseguem se soltar e ficar à vontade num contato com um homem. Estão
sempre medindo quanto ele quer transar com ela ou não. No final das
contas ficam sozinhas, reclamando e reforçando aideia de que são vistas
como objeto… Desculpe dizer, minha amiga, você faz o mesmo!
Frederico M