Pois se eu quiser sofrer, que me deixem sofrer em paz. E se eu não
aguentar mais, que me deixem desistir. “Não desista nunca!”, eles
diriam. Ora, eu desisto se quiser (na verdade, se não quiser mais). Não
acho que desistir seja sinal de fraqueza. E mesmo que fosse, eu tenho o
direito de fracassar também. A sociedade nos enfia uma obrigação de
sorrir o tempo todo goela abaixo que a gente engole e… abre um belo
sorriso. Pois é isso que temos feito de melhor.
A felicidade que nos é imposta sequer é aquela felicidade calma de uns
anos atrás. É uma felicidade exagerada, exuberante, forçada, brilhante,que pisca na nossa cara feito um letreiro de motel. E qualquer “felicidadezinha”, dessas mais singelas, não serve pra nada.
Será que essa felicidade obrigatória (e também exagerada, exuberante e
forçada) não seria o motivo do aumento nas filas dos psicólogos,
psiquiatras, psicanalistas, psicodélicos, psicocinéticos, psicopatas e
psyducks…?
Piadinhas infames à parte, hoje em dia não é permitido mais reclamar
sobre o seu emprego, não é permitido chorar quando se está triste, não é
permitido acordar sem dar bom dia aos passarinhos. Se bobear, daqui a
pouco nem picar cebola vai ser permitido mais porque lágrimas não são
bem vistas aqui. Qualquer um que perceba que não consegue sorrir 24
horas durante o dia começa a achar que há algo errado. Com a sociedade?
Não, com você. Antigamente se você sofria demais, não estava contente
com o trabalho ou a vida pessoal, corria o risco de ser taxado de
dramático ou “reclamão”. Época boa essa. Hoje em dia você “tem que se
tratar”, “acho que você é bipolar”, “já ouviu falar em rivotril?”. E aí
dá-lhe consulta com psicomédicos, dá-lhe terapia. A tristeza é então
tratada como uma nova patologia. Na verdade, nem só a tristeza, a
simples falta da felicidade como é vendida já é algo a ser tratado.
A obrigação de ser feliz vem nos
tornando secretamente cada vez mais infelizes. Porque a gente pega tudo
aquilo que não está agradando, joga dentro de uma gaveta lá no fundo da
mente e diz “xiiiiis” pro mundo. Porque a mente pode estar destruída e o
coração despedaçado, mas o creme dental branqueador fez um ótimo
trabalho no sorriso (afinal, tem sido a única parte sua que você vem
mostrando por aí).
Sempre tive uma queda pelo drama e,
sinceramente, prefiro mesmo um bom drama do que toda essa alegria
pré-fabricada. Um drama sincero, pelo menos. O sorriso é bom quando
surge na cara da gente por vontade própria, como um direito que todo ser
humano tem de se acabar de rir por coisa alguma. Acontece que o ser
humano tem o direito de se acabar de chorar também.
Mariane M.