Eu achei que você nunca fosse passar. A gente sempre acha que vai
demorar muito, ou que a atenção nunca mais vai desviar o foco de você,
ou que a gente nunca vai conseguir mais engolir a saliva que fica presa
na garganta em todas as vezes que você aparece com alguém, mas passa.
Daí fica a saudade. Sabe aquela saudade gostosa que persiste, que a
gente usa pra tentar sentir de novo enquanto faz todos aqueles testes de
reação pra ver se você ainda incomoda? Saudade estranha essa. Nem é
boa, nem é ruim. É persistente. Acho que é pra dar algum conforto nesse
nó no peito que se desfez.
Mas agora, falando especificamente de você, de você ter passado, e de eu
nem ter percebido a despedida, foi um estranho-bom. Foi bom porque a
gente sempre acha que vai precisar de alguém pra ocupar o lugar e nem
sempre é assim. Um dia desses, a gente acorda e pronto, você passou. Um
dia desses a gente nem se lembra mais do seu telefone. Dia desses a
gente se esquece até dos seus gestos e acaba arrumando o armário sem dó
nem piedade. Ah, tudo passa. Você passou e muita gente ainda vai passar.
Eu mesmo já devo ter passado pra tanta gente e pra tanta gente que
ainda nem esbarrou comigo ainda. Você passou e eu tô deixando você ir de
vez. Sem me agarrar ao falso conforto da saudade que fica. Vai, pode
ir, foi bom enquanto durou, mas eu já não preciso mais. Passou, passado.
E fica até engraçado o jeito que a gente se pega vendo que o apego não
tinha o menor fundamento e que tudo que a gente fez foi meio imbecil.
Mas não foi em vão. Eu precisava ter feito de tudo, ter ouvido de tudo,
ter comido de tudo, ter chorado de tudo, ter rido de tudo e mais um
pouco pra você passar.
Daniel B