sexta-feira, 31 de maio de 2013

Sobre a pessoa mais bonita do mundo, expectativas e tipos reais.

Eu queria a pessoa mais bonita do mundo. Queria porque queria. Porque me interessava, porque me atraía, porque tinha o sorriso mais bonito e bem espaçado que eu já tinha visto. Porque era o meu tipo perfeito na combinação de tom de pele com a cor do cabelo. Tinha a altura média ideal e parecia ser tão simpática e bonita quanto as pinturas mentais que eu faria da pessoa perfeita. Eu queria porque queria e todo o mundo mais queria. Mas em todo fim do dia, depois de passar horas vendo fotos e vendo o que a pessoa mais bonita do mundo dizia, eu chegava à conclusão de que era areia demais pro meu caminhãozinho.
Até que um dia eu topei com a pessoa mais bonita do mundo.
Topei, escorreguei, quase caí e nunca me vi tão destrambelhado como nesse dia. Ela riu, me ajudou a sustentar os dois pés como base e ainda me chamou lá pra fora da festa, pra aproveitar o ar da varanda. E foi aí que eu a tive pra mim. Nuns poucos minutos de embriaguez e oportunidade, eu tive a pessoa mais bonita do mundo. Numas horas restantes de festa, eu tive a companhia dela. E foi frustrante. A pessoa mais bonita do mundo, aquela que todo mundo queria, que parecia ser o sonho de muita gente – e o meu tipo perfeito – não era nada demais.
Nada demais. Era como o eco da confusão gritava na minha cabeça. O beijo era morno, as mãos eram soltas, o abraço não combinava, os olhos se desviavam pra não encarar a falta de cumplicidade e admito que nem chegou perto daquele frio na barriga que a gente sente quando encontra alguém que tem potencial pra mexer com a gente. Frustração porque a expectativa tava tão alta e desabou com aquele encontro kamikaze. Porque eu suava pelas mãos e o meu corpo não reconheceu o dela, o nervosismo foi meio que em vão e eu passei o dia seguinte inteiro pensando sobre a verdade da situação: a pessoa mais bonita do mundo não era pra mim.
O que seria pra mim então? Essa minha busca por ela tinha me transformado num projeto de psicopata por algumas semanas. Longas sessões de stalking e de insegurança à flor da pele, a rever todos os meus conceitos de auto-imagem e de percepção sobre o tipo de interesse que eu poderia causar nela, até chegar ao pensamento clássico de que era demais pra mim. Mas deixa eu contar uma coisa pra você: tipos perfeitos não existem. E foi isso que eu percebi quando eu estive com a pessoa mais bonita do mundo. Que a gente monta um modelo de pessoa perfeita pra gente, desde a parte superficial aos mínimos detalhes de leitura e gosto musical – tem gente que até pensa no vestuário e coisas do tipo – e a gente acha que se apaixonaria fácil por alguém assim. Não só nos apaixonaríamos como também teríamos um lindo relacionamento nessa equação perfeita. Até que a gente se lembra de incluir a necessidade de química, a compatibilidade de gostos e assuntos dentro do nosso universo e fora dele, o timing e os objetivos de vida – além da visão de mundo dos dois e muito mais. Ah, quando a gente monta a equação inteira, a gente percebe variáveis que saem do nosso controle e que não podem ser supostas apenas pela aparência, pelo sorriso e pela forma com que o outro parece interessante.
A pessoa mais bonita do mundo era interessante. Mas não pra mim. Fazia exatamente a minha ideia de tipo perfeito, mas não era meu tipo real. E a frustração foi fruto dessa expectativa boba e mal desenhada que eu tive – e aposto que você também deve ter em relação a alguém. Nossos tipos perfeitos foram feitos pra sonhos, literaturas, preenchimento de ego e afins. O importante mesmo é o tipo real que pode passar bem longe do que a gente espera que seja.
Depois daquela noite, eu fui indagado pelos amigos sobre o porquê de não ter entrado mais em contato com a pessoa mais bonita do mundo. Do nada, a minha pequena obsessão se desfez e eu deixei de achar tanta graça assim nela. Talvez eu também não tenha sido nada demais pra ela e essas coisas acontecem. Meus amigos não entendem, mas a verdade é que agora eu tenho uma nova perspectiva do tipo de pessoa que eu quero. Eu quero alguém real. Uma boa pessoa que entre na equação e que, talvez, nem complete todas as variáveis, mas que me faça sentir a pessoa mais especial do mundo. Que mexa comigo como os meus tipos perfeitos mexem em sonho, mas de verdade, de carne e osso, pra causar frio na barriga e arrepio. Alguém que pode ser o completo oposto do que a gente espera pra se apaixonar – e mesmo assim consegue fazer com que a gente se apaixone.
Eu agora quero tipos reais. Deixo os tipos perfeitos pras capas de revista e pros meus personagens preferidos de filmes, deixo pro ego satisfeito e pras noites de sono. Acordar mesmo, eu quero que seja ao lado de uma boa pessoa real.

Daniel B