O que fará hoje à noite? Eu já sei:
desmarcará qualquer coisa que não seja uma embriagante dose de nós e
aceitará meu convite para um passeio inesquecível ao redor da lua, sem
gravidade ou censura. Daremos mil passos por um espaço só nosso e hoje
uma fusão nuclear colará minha carne crua em seus ossos.
Eu sei que você demorará horas,
possivelmente séculos, para escolher um vestido que com toda certeza
terminará despido, rasgado ou, com sorte, derreterá em pleno bistrô,
quando eu fizer seu corpo ferver e disser em seu ouvido o quão fundo
estou disposto a encaixar-me em ti e o quão imensurável desejo que seja a
medida do seu terremoto particular.
Hoje eu quero que a cama quebre as
pernas, pois não aceito que nada nesse mundo seja capaz de suportar o
peso de nossa valsa horizontal. Quero que a vidraça estilhace, para
dividirmos com o resto do universo o pouco que restará de sua voz rouca.
Invadirá outras casas com um grito incontido de tesão que nunca caberá
em sua boca. E mesmo que o céu todo desabe sobre nós, sei que
permaneceremos de olhos bem fechados, protegidos por uma fina camada de
suor e em meio aos escombros e cacos de todo o resto, estaremos
inteiros, completos e sujos como sempre.
O que fará hoje à noite? Te pego às oito e talvez não te devolva nunca mais.