segunda-feira, 26 de março de 2018

A vida adulta tem umas solidões esquisitas


Solidão de adulto é foda. E não se resolve com transa. Nem com compras em shop, porre de vodka com energético, ou almoço de família. A vida adulta tem umas solidões esquisitas. Do tipo que pai e mãe não dão jeito e nem amigos festeiros dão conta. É solidão de alguém para abraçar  e diminuir as dimensões da cama, na hora de dormir. Solidão para viajar até a praia e pular o carnaval, sem pular nele.
Claro que estar só não é ruim. É essencial saber ficar bem sozinho. Você pode e deve fazer uma porção de coisas sozinho. Viaje para algum canto em que você seja anônimo e fique apenas você e sua mochila, por uns dias. Assista aquele show que tanto quer, mescle-se na multidão de rostos desconhecidos e cante alto com seu inglês meia boca, perca a vergonha. Tome seu café na varanda, com um livro por companhia e experimente esses momentos a sós. Eles servem para aprender  mais sobre si e sobre o mundo.
Porém, vez ou outra, possivelmente surgirá aquela noite em que o quarto ficará grande demais, o carro gelado e a lasanha de microondas, porção individual, te dará um tapa na cara. Você vai olhar ao redor querendo encontrar uma expressão familiar, alguém que te pergunte sobre seu dia, que seque a louça enquanto você lava (apesar do clichê) e que divida uma bacia de pipoca quente e amanteigada, enquanto vocês assistem o filme novo, nem tão bom assim.
Estar sozinho não significa estar solitário. Mas, a solidão em si, é um troço cruel demais. Ela te fode o cérebro, sem piedade, sem carinho na nuca e sem cigarro dividido aos pés da cama. E por mais que você busque remediá-la com encontros  e transas, vai acabar acordando com o efeito colateral de um estranho completo, dormindo ao seu lado. O que pode ser pior, ou melhor…dependendo da sua reação deste momento em diante. Se a ideia era lance casual, ok. Mas se foi uma busca por preencher algo maior, as coisas podem complicar.
Parece que faz parte da vida adulta, sentir esse aperto no peito, essa vontadezinha de ter alguém ao alcance da mão, da pele e do abraço. Mas buscar abrigo no prazer alheio, não resolve isso. É preciso mais. Se a falta de companhia incomoda, tem que resolver. Eu entendo que abrir a casa e a vida para outra pessoa é assustador, mas quando a ausência de alguém é grande e dolorida, é porque é hora de parar de procurar paliativos e botar a solidão para escanteio de vez.
E para isso, tem que ter os olhos e o coração abertos. Tem que dar espaço para aquela amizade nova, surgida na fila do caixa. Tem que retribuir aquele sorriso que te encantou, no meio de um bar transbordante de gente, numa sexta à noite. Tem que se permitir conhecer outras coisas, outros lugares e outros amores. Parafraseando o poeta, não prepare apenas um café, prepare a vida. Porque ao contrário do que dizem, acredito que coisas boas surgem quando a gente realmente espera  e está preparado para elas, do fundo do coração.
Loui K