terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Como respirar


Pediram outro dia que eu contasse como nos conhecemos, como me apaixonei.
Não soube dizer.
É como se você estivesse sempre aqui.
Não sei dizer.
Amar você é como respirar: não sei como aprendi, não sei explicar como se faz. Um dia cheguei ao mundo e respirei, e isso é a vida. Um dia você chegou e eu te amei, e isso é a vida.
Não me interessa saber por que respiro, não me interessa saber por que amo. Só respiro e vivo. Só amo e vivo.
É como se eu tivesse aprendido você tão mansa, tão naturalmente quanto aprendi a andar ou a falar. É como se cada passo meu só tivesse me levado na sua direção, e estar numa madrugada escrevendo cartas de amor não fosse nada mais que o resultado da caminhada. Não me espanta que eu te ame.
Nos conhecemos há tantos anos –oito, nove, dez?—, não lembro ao certo como, onde, quando. A vida seguiu. Um dia abri os olhos e soube que te amava, não lembro direito. Essa história não saberei jamais contar. Só sei do dia vinte e oito de fevereiro, o dia da minha coragem, e do que temos vivido desde então. De antes, não sei dizer.
Eu não lembro mais de como era a vida antes de você. Não lembro de como eram os sábados, os domingos. Não lembro de como era dormir sem antes fazer uma prece silenciosa. Não lembro de com que olhos eu olhava para o céu estrelado.
(Sabe esses dias bem frios quando a gente vê pela televisão alguma praia do outro lado do Brasil e parece que não consegue lembrar como é o calor, não consegue nem se imaginar de roupa de banho?)
Talvez eu não vivesse, talvez eu não tivesse sábados nem domingos, talvez eu não rezasse, talvez eu fosse cego e não enxergasse o céu. Não lembro.
Sei que amanhã é domingo, é o seu aniversário, e eu estarei com você. Sei que debaixo desse mesmo céu estrelado você dorme, talvez sonhando os mesmos sonhos que eu. Sinto o peito arfar, então sei também que respiro e que amo.
Só sei que respiro. Só sei que amo
Isso é o que me basta saber.
Tudo o que me basta saber.