O curioso do quarto é que ele é o lugar da casa que mais guarda segredos
e histórias não visíveis a qualquer um. A gente abre a gaveta e joga um
amor, pega um cabide e coloca uma morena de olhos verdes pendurada
naquela marca de batom no colarinho, a gente abre uma caixa e revive
umas cenas que a gente nem lembrava mais.Você encontra rostos conhecidos e alguns que se perderam por aí faz
tempo. O coração aperta, não aperta? São letras de mãos que contam mais
que histórias: contam quem você é, foi ou deixou de ser de alguma forma.
A composição do meu guarda-roupa é meio que assim: passado, presente,
futuro e o que eu nunca vou deixar de esquecer.
A parte divertida de deitar no divã do quarto é que você se analisa sem
precisar de um desconhecido qualquer cobrando uma fortuna por uma hora
de desabafo. No fundo, a gente só quer ser ouvido e não há ninguém
melhor do que todos os personagens que a gente já foi um dia pra ouvir a
gente.Todo novo ciclo pede uma entrada e uma renúncia. E a gente renuncia todo
dia, toda hora, todo momento. Não só para ciclos longos, mas pra quando
a gente acorda e vai dormir. A gente abre mão do sofá porque tem que
trabalhar e da TV à noite porque o corpo pede calma.