Os preços estão totalmente descontrolados e andam subindo mais do que piroca de adolescente sob o efeito de Viagra.
O custo do combustível está cada dia mais alto, assim como o do metro
quadrado de um imóvel, o da conta de telefone, o do plano de saúde, o do
cigarro, o da coxinha, o do tomate – enfim, o preço de quase tudo está
em estado de constante erupção.
Não tive outra saída a não ser me
adaptar. Só me restou seguir os conselhos do mano Darwin e achar
alternativas para sobreviver em meio às inflações da máquina
capitalista. Para não ter que vender meu rim no mercado negro e nem me
aventurar a comer velhinhas taradas em troca de capital, fui obrigado a
trocar meu carro por uma magrela, meu telefone por um e-mail, o cigarro
por uma baita abstinência, a coxinha de frango por uma feminina sem
catupiry e o tomate troquei por caqui. Até aí tudo bem, sobrevivi a
quase todas as altas com as quais me deparei.
Só não consegui engolir a elevação
brutal do preço de uma das coisas mais essenciais para a sobrevivência
das relações humanas: o carinho. Não sei se já repararam, mas hoje o
carinho anda bem mais caro do que deveria. Diria até que está abusivo. E
não falo apenas do carinho necessário entre namorados. Refiro-me também
ao carinho fundamental entre familiares, profissionais, vizinhos,
motoristas, pedestres, extraterrestres – enfim, falo do carinho que, por
lei, deveria ser distribuído gratuitamente em todos os elevadores e
esquinas desse universo. O planeta precisa de carinho em forma de
sorrisos sinceros, de cafunés demorados, de gentilezas espontâneas, de
poesias em guardanapos ou de qualquer outra coisa capaz de nos livrar do
ódio e dos inúmeros venenos inerentes à nossa perigosa existência
humana.
Estou falando do carinho gratuito, do
tipo que não espera nenhum outro carinho para acontecer. Estou falando
de gente que dá o braço inteiro sem querer um pedaço da mão em troca.
Pare de esperar o sorriso do outro para aí então entregar o seu. Seja
mais rápido no gatilho e saia por aí metralhando sorrisos sem economia.
Não custa nada. Muita gente só tem dado carinho na base da troca e,
justamente por isso, tem muito mais pessoas esperando sem fazer nada, do
que seres entregando sem esperar nada. Você precisa quebrar essa
inércia egoísta, esse ciclo de gente passiva, e começar, agora, a
distribuir carinho sem se preocupar se receberá algo em troca.
Sua conta corrente pode estar tão vazia
como a de um mendigo e, justamente por isso, você tem todos os
argumentos do mundo para economizar dinheiro e fechar o bolso. Agora,
qual é a justificativa para agir da mesma forma econômica com o carinho?
Há mais carinho no seu coração do que reais na conta do Eike Batista.
Por isso, não tenha medo de sair por aí jogando carinho para o alto,
distribuindo sem dó ou peso na consciência. E sabe o mais louco disso,
ao contrário da lógica monetária? Quanto mais carinho você gastar, mais
rico ficará.
Ricardo Coiro