segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Te Baguncei


Eu queria te bagunçar, sim. Mas a bagunça que eu buscava envolvia só cabelos desarrumados, roupas amassadas, lençóis pelo chão. Era essa bagunça que eu queria e não a que eu causei.
Desculpa pelo amor sem medidas que você me deu. Eu não tinha a quantia necessária para retribuir de forma justa, mas achei que conseguiria alcançar algo semelhante um dia. Por isso deixei acontecer. O que eu não percebi é que, quanto mais eu permitia, menos eu sentia. No fim, não era amor… É que você me fazia um bem danado pra eu abrir mão tão fácil.
Desculpa o meu egoísmo filho da puta. Acredite, eu me odeio por saber que te baguncei nesse tanto. Eu te vejo sem saber o que fazer agora, já que joguei todos os nossos planos fora. Eu os quis, sabe? De verdade. 
Aguentar o peso do seu coração nas minhas mãos não é fácil. Eu queria que você voltasse a sorrir como antes. E quero muito que você não tenha medo de amar assim de novo. Ame! Eu é que sou o problema – por mais clichê que isso possa parecer. Você ama bem. Ama de verdade e isso é tão raro hoje em dia. Eu sou prova disso… Você deu azar ao me escolher.
Se eu pudesse, voltaria no tempo. Passaria reto por você naquele local que a gente se conheceu. Não teria te passado o meu número nem teria aceito o seu convite para a semana seguinte. Não teria deixado você se apaixonar por mim. Não teria te machucado. 
Não teria sido eu.

Quantas curtidas esse texto merece ?

Não sei se eu que estou muito errado, mas nada disso faz sentido para mim.
Existe uma ânsia de demonstrar ser, mais do que realmente ser. Pessoas tiram fotos com copos e sorrisos falsos, enquanto a balada estava quente, insuportável e lotada. Mas o mundo acha que foi bom e isso basta. Aquele sorriso diz aos outros “olha como eu me divirto!”. Mesmo que no fundo nada disso seja real.
Existe uma necessidade invisível de mostrar ao mundo que cada um está vivendo o relacionamento mais perfeito da vida. “Olhem, pessoas, como meu relacionamento é um conto de fadas. Sou uma princesa, esse é meu príncipe e vamos viver felizes para sempre – postando fotos e frases apaixonadas para vocês morrerem de inveja do nosso amor.”
Esse jogo de “ser e aparentar ser” não tem vencedores. Todos são perdedores: perdemos tempo tirando fotos para os outros verem, perdemos a beleza do momento que passa enquanto procuramos o melhor filtro do Instagram para registrá-lo, perdemos chances de olhar nos olhos e dizer “você está lindo(a)!” enquanto digitamos isso em nossos smartphones.
Confesso que não tenho fotos que registrem os melhores momentos da minha vida. Simplesmente porque nos momentos mais felizes de nossas vidas, não nos preocupamos com o que os outros vão achar, não pensamos onde está o celular. Pensamos em curtir (de verdade, não clicando em um botão) cada instante, pois sabemos que não há foto nem nada nesse mundo que possa trazer de volta o AGORA, o instante que passa.
Não, não precisa curtir meus textos, minhas fotos, minha vida no story. Não precisa curtir nada. Prefiro que venha viver os melhores momentos da minha vida comigo. Sem fotos mas com toda a felicidade a que temos direito. Não precisa elogiar nos comentários, elogie olhando nos olhos, é tão mais gostoso. Não precisa compartilhar meus textos, compartilhe sua vida comigo, cada minuto é de inestimável valor.
Não precisa curtir nada nessas vitrines de vaidades que são as redes sociais. Curta a vida. Com todos os seus sentidos, com toda emoção. O tempo não para. O tempo não volta. O tempo é o bem mais precioso de nossas vidas. 
De que maneira você tem curtido sua vida?

domingo, 30 de dezembro de 2018

Atalhos

Quanto tempo a gente perde na vida? Se somarmos todos os minutos jogados fora, perdemos anos inteiros. Depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, aí mais tarde demora pra entender certas coisas, demora pra dar o braço a torcer. Viramos adolescentes teimosos e dramáticos. Levamos um século para aceitar o fim de uma relação, e outro século para abrir a guarda para um novo amor, e já adultos demoramos para dizer a alguém o que sentimos, demoramos para perdoar um amigo, demoramos para tomar uma decisão. Até que um dia a gente faz aniversário. 32 anos. Ou 40. Talvez 48. Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto. E a gente descobre que o tempo não pode continuar sendo desperdiçado. Fazendo uma analogia com o futebol, é como se a gente estivesse com o jogo empatado no segundo tempo e ainda se desse ao luxo de atrasar a bola pro goleiro. Não falta muito pro jogo acabar. É preciso encontrar logo o caminho do gol.
Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso. Tudo o que a gente quer, depois de uma certa idade, é ir direto ao assunto. Exceto no sexo, onde a rapidez não é louvada, pra todo o resto é melhor atalhar. E isso a gente só alcança com alguma vivência e maturidade.
Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando, não esperam sentados, não ficam dando voltas e voltas, não necessitam percorrer todos os estágios. Queimam etapas. Não desperdiçam mais nada.
O cara está enrolando muito? Beije-o primeiro.
A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera.
Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação.
Pra enrolação...atalho.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Jogo!

Não gosto de jogos, sabe? Costumo perguntar se a pessoa tá interessada, se ela deixou de se interessar, se eu ainda perco algum tempo com ela ou sigo a minha vida. Costumo deixar claro o convite, seja ele para vir dormir comigo ou para se retirar. Não dou meias respostas: me expresso. Digo com palavras, com frases diretas que não têm segundas intenções, mas têm primeiras. “Quero te ver, pô”, “Você me encanta’, “Acho que estou me apaixonando”, “Não me machuca, por favor”, “Eu não tô vendo ninguém”, “Acho que essa música combina com você”, “Lembrei de você ontem”, “Será que rola da gente se ver?” etc e tal. E também não aceito mais meias respostas. Sabe por quê?
Porque essa mania de esconder o que se sente tá matando os nossos relacionamentos. Tanta oportunidade bonita de ver broto florescendo e a galera chega tacando areia em cima da plantação. Escolhem viver num toma-lá-dá-cá cheio de estratégia que cansa pra cacete, convenhamos. E nesse ping-pong da vida, uma hora alguém cansa de jogar. Sabe o que acontece quando um deles sai de campo? O jogo acabou sem nenhum vencedor. Sobra só alguém que insistiu muito em se esconder sozinho na sala.
O problema não é o sentimento ou a falta dele. Essas coisas acontecem, ter interesse é essencial. O problema é o discurso do sujeito que não consegue ser sincero e dizer o que sente, mesmo que sinta nada. E a gente já gasta oito horas por dia trabalhando, tem que dormir mais oito horas, e as horas que sobram no intervalo entre essas são as raras que temos para viver. Viver vai muito além de gastar tempo com gente pouco esclarecida, que ainda não entendeu que não precisa de manual e técnica de sedução furada pra conquistar alguém.