domingo, 10 de julho de 2016

Nem sempre nós ficamos com os amores das nossas vidas.



Primeiro gostaria de dizer que eu acredito em grandes amores. Mas vivo como se não acreditasse.

Eu não tenho mais expectativas fúteis para o romance. Eu não estou à espera de sentir aquela sensação estranha de flutuar novamente. Eu sou daqueles cara raros que se entrega ao descobrir o amor; agora talvez um pouco cansado, que realmente não gosta deste ambiente atual de conexão entre as pessoas e que não é feliz por viver numa época em que a monogamia, a infidelidade, o relacionamento extremamente aberto é normal. 

Eu acredito em grandes amores, por que já tive um.

Eu tive esse amor que tudo consome. O amor do tipo “eu não posso acreditar que isto exite no mundo real.”

O tipo de amor que irrompe como um incêndio incontrolável e então se torna brasa que queima em silêncio, confortavelmente, durante anos. O tipo de amor que escreve romances e sinfonias. O tipo do amor que ensina mais do que tu pensaste que poderias aprender, e dá de volta infinitamente mais do que recebe. 

É amor do tipo “amor da sua vida”. 

E eu acredito que funciona assim: Se tu tiver sorte, vai conhecer o amor da sua vida. Tu vai estar com ela e vai aprender com ela, darás tudo de ti a ela e permitirás que a sua influência te mude em medidas insondáveis. É uma experiência como nenhuma outra. 

Mas aqui está o que os contos de fadas, as histórias românticas, não vão te dizer - às vezes encontramos os amores das nossas vidas, mas não conseguimos mantê-los. 

Nós não chegamos a casar com ela, nem passamos anos ao seu lado, nem seguraremos as suas mãos no leito de morte depois de uma vida bem vivida juntos. 

Nós nem sempre conseguimos ficar com os amores da nossa vida, porque no mundo real, no mundo que vivemos, o amor não conquista tudo. Ele não resolve as diferenças irreparáveis, não triunfa sobre a doença, ele não preenche fendas religiosas e nem nos salva de nós mesmos quando estamos perdidos.

Nós nem sempre chegamos a ficar com os amores das nossas vidas, porque às vezes o amor não é tudo que existe, Às vezes você quer uma casa grande e três filhos e ela quer uma carreira profissional e um apartamento no agito da cidade. Às vezes você tem um mundo inteiro para explorar e ela tem medo de se aventurar fora do quarto. Às vezes teus sonhos são maiores que os dela.

Às vezes, a maior atitude de amor que você pode ter é simplesmente deixar a outra pessoa partir. 

Outras vezes, tu não tem escolha. 

Mas aqui está outra coisa que não vão te contar sobre encontrar o amor da sua vida: não viver toda a sua vida ao lado dela não desqualifica o seu significado. 

Algumas pessoas podem amar-te mais em um ano do que outras poderiam te amar em cinquenta anos. Algumas pessoas podem te ensinar mais em um único dia do que outras durante toda a sua vida. 

Algumas pessoas entram nas nossas vidas apenas por um determinado período de tempo, mas causam um impacto que mais ninguém pode igualar ou substituir. 

E quem somos nós para chamarmos essas pessoas de algo que não seja “o amor das nossas vidas”? 

Quem somos nós para minimizar  a sua importância, para reescrever as suas memórias, para alterar as formas em que nos mudarem para melhor, simplesmente porque os nossos caminhos divergiram? Quem somos nós para decidir que precisamos desesperadamente substituí-los - encontrar um amor maior, melhor, mais forte, mais apaixonado que pode durar por toda a vida? 

Talvez nós devêssemos simplesmente ser gratos por termos encontrado essas pessoas. 

Por termos chegado a amá-las. Por termos aprendido com elas. Pelas nossas vidas se terem expandido e florescido como resultado de tê-las conhecido.

Encontrar o amor da tua vida não tem que a tragédia da tua vida. 

Deixá-lo pode ser a tua maior bênção. 

Afinal, algumas pessoas nunca chegam sequer a encontrá-lo. 

terça-feira, 22 de março de 2016

Eis o asco.


Era pra ser o suprassumo animal, o recorte sempre perfeito de uma vida cheia de maldizeres. Mas não é assim não.Depois que a poeira abaixa, logo em seguida da brasa esfriar, nem sempre a coisa anda. Não é dessa maneira que a gente queria, mas se a vida assopra, é porque ela logo vai bater de novo. De quando em quando, a gente se pega na situação inerente do asco pós-coito, aquela mazela que surge depois que o sangue começa a fluir novamente por todo o corpo e não só nas genitálias, uma coisa ruim de se perceber em algum lugar que não se queria estar com uma pessoa que não era exatamente quem você passaria uma madrugada toda batendo um papo.Nem estou dizendo que a escolha foi erro nosso, que, já que optamos -- em alguns momentos -- o sexo pelo sexo, nada mais justo que ter que aturar o que vem depois. Não posso dizer, claro, por todo mundo, mas creio que foram pouquíssimas as vezes em que eu fui para o tão desejado sexo com alguma garota que eu não tinha um mínimo de sentimentalidades de carinho, curiosidade e amizade.Só que o sexo abre muitas portas, mostra muitas caras, evidencia muito de você e da outra pessoaDaí, quando ainda nem percebemos, o toque da pele se transforma em algo incômodo, a voz adentra aos ouvidos de forma mais áspera, as luzes do quarto ficam menos convidativas, a cama parece ter criado pregos. 

Jader P

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Dessa vez a saudade venceu


Já que não deu certo, é melhor que fique assim. A gente se afasta e cada um vai tocando a sua vida. A gente se afasta e depois de um tempo finge que superou, que não sente mais nada e até arrisca andar de mãos dadas com um novo amor. A gente se afasta e guarda tudo dentro do peito. Escondemos o sentimento dentro de um potinho e fazemos de conta que tudo aquilo não existe mais. E aí a gente vai levando até quando suportar. Até quando um dos dois não mais aguentar. A gente vai. Com a lembrança do verdadeiro amor que escapou por entre os dedos. Com a certeza de que nunca mais sentiremos nada parecido. Sentindo o cheiro do perfume e lembrando o toque dos lábios. A gente vai porque o orgulho não nos permite voltar atrás. Porque já nos machucamos demais. A gente vai, mas a felicidade não. A gente vai. A gente foi. A saudade fica. Fica na camisa rasgada e nas brincadeiras dentro do elevador. Fica nas lembranças daquela viagem e naquele fim de tarde. Fica no vazio do sofá e do coração. Fica aqui e fica aí também, mas a gente não precisa admitir. A saudade é grande, o orgulho é maior ainda. Está tudo bem. Neste mundo torto quase ninguém termina ficando com o grande amor da vida mesmo, apesar de todos fingirem que sim. Quem somos nós para irmos contra? As coisas são como elas são. E, de tanto fingir que está tudo bem, quem sabe um dia a gente acabe acreditando. Muitas vezes é melhor levar uma vida sem grandes riscos. E aí, por não conseguir domar o tigre, a gente acaba se contentando com o gato. E agora é conviver com aquele bichinho monótono, cansado e preguiçoso, porque nos faltou coragem de assumir o desafio que seria lidar com algo tão selvagem. Animais domesticados não precisam de grades. Então é isso. Agora a gente vai. Fingindo que está feliz e tentando esquecer o nosso potinho secreto. O problema é que quando se é feliz de verdade uma vez na vida, você já não mais sorrirá igual por qualquer coisa. Desculpe por ter aberto nossas lembranças assim sem avisar. É que é mais difícil ser um bom ator em noites de chuva. Dessa vez a saudade venceu.
Rafael M.