domingo, 29 de abril de 2018

Você não tem tempo

Não vai dar tempo.

Você não vai ter tempo de ler aquele livro. Daqui a trinta anos, quando morrer, ele ainda vai estar na sua fila de leitura. Fechadinho.
Aquela mulher? Não deixe pra sair com ela amanhã. Ela vai encontrar outro cara. Vai refazer o coração partido. Vai ser atropelada. Vai se descobrir lésbica.
Ou, talvez, apenas, quem sabe, vai sair da sua.
Quem hoje te beijaria amanhã nem boa noite vai te dar.
O futuro que vocês poderiam ter tido não vai acontecer.
Tudo porque você não foi lá hoje.
Vá lá hoje.
Aquela rua nunca vai ouvir o som dos seus passos. Aquela revista? Nunca mais vai abrir.
"Temos tempo", ela disse.
Mas é mentira. De propósito ou por ignorância.
Não temos tempo.
A palavra rude que você disse para alguém que não gostava? Peça desculpas hoje.
A palavra carinhosa que você nunca disse para alguém que gostava? Diga hoje.
Você não tem tempo.
Lembra como a vida corria quando você tinha quinze anos?
Pois está correndo hoje.
Sabe aquela sensação quando dá seis da tarde e você pensa:
"Caramba, já acabou o dia... e não fiz nada!"
Você vai sentir o mesmo aos quarenta. Ou aos cinquenta. Ou sempre.
Faça agora.

Alex C.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Tempos Líquidos


Acordei, peguei o celular. Ignorei as mensagens dos grupos. Fui direto para a conversa com ela. Mandei “bom dia” acompanhado de uma carinha fofa. Larguei o celular, levantei. Cumpri o ritual das manhãs. Dentes, banho, roupa. Enquanto tomava uma enorme xícara de café, olhei novamente o telefone. Dois tiques azuis no meu “bom dia”. Nenhuma resposta. Guardei a leve chateação. Fui para as obrigações. 45 minutos depois, nada. 2 horas mais tarde, Nada! Mandei aquela carinha com o polegar e o indicador no queixo. Funcionou. Ela respondeu. “Bom dia, tudo bem com vc???”. Ufa. “Tudo, tudo. E como vc passou de ontem pra hj?”. 2 minutos. 5 minutos. “Tô na correria aqui dpois nos falamos bj”. Poxa. “Ok. Tô por aqui, é só chamar. Bjo”. Voltei para os afazeres. Saí para o almoço. Voltei do almoço, rodei pelo Facebook. Ela postou uma foto com um amigo. Será que eu curto? Curti. Será que comento? Não. É demais. Abri mais uma vez o papo com ela. ONLINE. E nada de falar comigo. Nada! Passei a tarde fingindo me importar com outras coisas. Caiu a noite, e nada dela. Fui pra casa. Vi um episódio de La casa de Papel, já não era tão interessante. Deitei para dormir. Abri a conversa. ONLINE. Mandei o orgulho definitivamente às favas. Arrisquei uma frase. Apaguei. Arrisquei outra. Apaguei. Uma terceira. E enviei. “Acabei de ver um episódio de La casa de Papel. Nossa, o Professor!”. Tentei parecer despreocupado, relaxado. tranquilo. 2, 5, 7 minutos. ONLINE. “Acontece hahahaha”. Só isso? Nada mais? Ela não perguntou do episódio. Não perguntou do meu dia. Não continuou o papo. Ainda joguei um “hahahaha sim”. Larguei o telefone. Dormi chateado. Acordei, nó na garganta. Peguei o celular. Abri a conversa com ela. Não vou mandar “bom dia”. Ainda tinha um pouco de dignidade!
Eu juro que reli umas 30 vezes os nossos papos para tentar achar onde foi que nos perdemos. Onde foi que eu a perdi? Por que ela "foi embora?" Por que ela parou de responder? Ainda no dia anterior, ela tinha me mandado uma música linda e criado um apelido fofo. O papo estava indo, sabe? Depois disso comecei a refletir um pouco. Bauman tinha razão: "vivemos em tempos líquidos e nada é pra durar"
Marcos B.