quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Tive Que Ir .

 Fico lembrando, agora, e pensando em quando isso tudo vai deixar de ser divertido. Porque, você sabe, um dia, a gente muda, enlouquece e resolve ir embora.

Saí sem fazer alarde e, dessa vez, diferente de todas as outras, não bati o dedinho do pé na quina de sua cama e nem precisei apalpar suas paredes sempre tão magnéticas para meu nariz. Não precisei nem acender a luz do quarto, apenas tirei meu peito debaixo de sua cabeça e, no lugar dele, deixei meu travesseiro lotado do meu cheiro para que não notasse minha fuga.Sem fazer qualquer barulho, ainda tive a audácia de abrir suas gavetas, armários e pastas do computador, pois queria apagar de vez todas as provas e rastros daquilo que havíamos vivido até ali. Joguei minha escova de dente pela janela e meu desodorante coloquei no bolso. Calcei o chinelo que morava ao lado do seu e na mochila, com dor no peito, coloquei os muitos livros que lhe emprestei e você nunca nem pensou em ler. Por fim, para tentar poupar-lhe de qualquer nó na garganta ou esbarrão imprevisível com a saudade, apaguei do seu computador as fotos sorridentes que havíamos tirado e joguei na lixeira aquela playlist que ouvíamos em looping eterno enquanto varávamos a madrugada entre goles de qualquer coisa.
Desculpe-me por ter saído sem que pudesse notar, por ter me desfeito de nossas impressões digitais sem que você tivesse a chance de me contrariar e por não ter deixado nenhum mísero recado na sua geladeira explicando o motivo que me fez deixar nosso amor inteiro em pedaços.
Eu realmente precisava ir, e só saí antes da hora porque queria levar comigo somente as lembranças imaculadas do nosso auge e sabia que só assim conseguiria fazer com que nosso caso durasse para sempre.Eu saí antes que nossos beijos infinitos virassem apenas selinhos apressados, sem gosto, presença de língua ou demonstração de fome. Eu saí antes que faltasse conversa em nossos passeios de domingo e antes que o volume do som do carro não fosse mais diminuído para que pudéssemos ouvir o som de nossas vozes. Saí antes de virarmos rotina, silêncio irreversível, acomodação covarde e pena um do outro. Eu saí morrendo de vontade de continuar ali, com meu pé encostado no seu e meu braço dormente debaixo de seu pescoço, mas sabia que precisava ir enquanto ainda havia tempo para congelar aquele sonho, perfeito como só ele foi.

Livro - CONFISSÕES DE UM CAFAMÂNTICO

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Ensaio Empírico


Foi quando eu percebi... quando percebi que em você não havia amor nenhum, quando notei que eu significava "coisas de mais" na sua vida. E bem... Amores não resistem a "coisas de mais". Então, eu tava falando que... Ah!... foi quando eu entendi e... sim, eu sei... eu levei semanas... anos pra entender... que você simplesmente não servia... foi aí que eu pensei: “eu vou embora”. E nessa hora foram mais semanas, anos, eu sei... mas você precisa entender que leva tempo. Então, de repente levantei... e fui embora tão rápido! ir embora é fácil, sabe? Difícil é levantar. Olha... você pode até achar bonito... e até pensar que eu sei das coisas... No fundo você tem razão. É um pouco bonito sim... e eu sei um pouco de coisas sim. Levei décadas pra entendê-las e depois... mais vários anos pra levantar... Eu sei que em semanas eu já estava longe... mas eu tinha deixado um vasinho com plantas pra trás... e elas certamente morreriam. Pq as plantas morrem perto de alguém que morre de medo. Foram séculos pra voltar.Nunca fui amado no dia do meu aniversário. E nunca “não fui traído”. Sequer respeitado. Mas também... o que é “ser amado”, “ser traído”, o que é a porra do “dia do aniversário”? Meras convenções... uma tolice. Tolice como o amor que sinto. Essa é a palavra. Tolo. Sou tolo. Olha que estranho... “Tolo”, “tolo”. Fala! Olha que estranho de falar: “tolo tolo tolo tolo tolo tolo”. Eu desde o início sabia o que ia acontecer. Algumas pessoas acham que eu sou exagerado. Vocês não sabem o que estou sentindo.Vocês não sabem a distância da minha percepção.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Não sabote sua felicidade.


Existe uma lei muda que ronda desde o play em que você brincava quando era criança até os bares que frequenta hoje: se uma das partes expuser seus sentimentos antes de existir de fato uma relação, pode ser que não role nada. Isso porque essa pessoa em questão está “entregando tudo de bandeja”. Porque ela “é fácil”. E aí a conquista não vale mais a pena. Quantas pessoas conseguem dizer “eu gosto muito de você” no segundo encontro? Tem gente que deve estar se revirando e pensando: “nossa, mas essa pessoa já gosta muito de outra no segundo encontro?”. Sim, isso acontece nos melhores botecos e, inclusive, com os melhores botequeiros. Já aconteceu com você, provavelmente.
Sabe aquele cara que sempre te ajudava na escola com a matéria atrasada? Aquele que ligava pra sua casa todo dia depois do almoço? Ele era bonitinho, legal, mas você só o via como amigo e confidente. Ele queria ser muito mais que isso. Você contava para ele sobre o garoto do time de futsal que nem sabia da sua existência, por quem você estava caidinha. E colocava o menino tão doce e prestativo na friend zone. Lembra aquela garota, aquela de vestido bonito do samba? Sorriso legal, engraçada, um papo cabeça. Vocês ficaram nessa noite e, depois de uma semana, ela te disse que estava acontecendo alguma coisa por dentro, confessou que estava sentindo algo a mais por você. Foi o que bastou. De repente, aquela garota bonita, aquela que você pensou “que sorte eu ter ficado com ela”, se torna somente mais uma. Você pensa “será que ela é realmente isso tudo?” e passa pra a seguinte, uma que te torture um pouco mais.
Que fique claro que isso não é uma generalização, mas cá entre nós, você sabe que isso acontece muito. O conceito da procura por algo desafiador está distorcido. E na minha opinião, não existe desafio maior do que se entregar a uma relação. Conquistar alguém todos os dias. Procurar no outro aquilo que te despertou o interesse não é tarefa fácil. Além disso, o prazer da conquista inicial é efêmero, enquanto o da conquista duradoura pode ser eterno. Não estou falando que todos deveriam estar em relacionamentos, só que, se o nosso olho só brilha pelo que está muito além do alcance dos dedos, alguma coisa deve estar errada. Cuidado para não acabar de mãos vazias e coração frustrado.
Um dia a gente aprende o quanto é gostoso gostar de quem gosta da gente. Quem sabe não seja hora de você dar chance para quem quer te fazer bem? Não sabote sua felicidade. Valorizar quem está ao seu lado, quem cuida de você, é um dos caminhos para ser feliz. E como cada pessoa tem diversas facetas, as possibilidades são infinitas. Você pode simplesmente descobrir que esse alguém do seu lado é uma fonte inesgotável de exploração. No bom sentido, claro. Um mar de cheiros, gestos, carinhos, pensamentos, sonhos e expectativas disponíveis para quem ousar se aventurar

Nataly L.